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O Vale de Hunza no Paquistão é provavelmente a região que mais gostamos. Um lugar com seu próprio ritmo, cultura e tradição, que conquista os visitantes com uma atmosfera extremamente tranquila e hospitaleira.
Onde fica o Vale de Hunza?
O Vale de Hunza fica no norte do Paquistão. Não, não fica na parte Paquistanesa ocupada da Caxemira e muito menos na India! Hunza fica na região autônoma de Gilgit-Baltistan. Há quem diga que Gilgit-Baltistan não têm mais a denominação de autônoma, e que hoje faz parte de outra região do país, Khyber Pakhtunkhwa (KPK). Mas não entraremos em política por aqui.
Foi em Hunza que encontramos algumas das paisagens mais lindas do Paquistão. “Hunza é a Suíça do Paquistão”, escutamos diversas vezes de locais e até mesmo de seguidores no Instagram que notaram a semelhança. Diversas montanhas de picos nevados compõem o cenário e o inverno pode ser impiedoso, então é melhor evitar a área nos meses mais frios – a não ser que neve e temperaturas congelantes seja exatamente o que você está procurando.
A Religião de Hunza
Diferentemente do resto do país, em Hunza as pessoas seguem uma versão do islã conhecida como Ismaili, considerada menos conservadora, então é comum ver as mulheres locais sem o véu, passeando, dirigindo ou trabalhando (infelizmente, em outras regiões interioranas do Paquistão, é bem raro ver mulheres trabalhando ou até mesmo andando na rua desacompanhadas de um homem).
Nós nunca tínhamos ouvido falar na comunidade Ismaili, e o que nos chamou atenção é que seu líder religioso está vivo e mora na França. Aga Khan, como é conhecido, promove diversos tipos de melhorias na edução e infraestrutura de Hunza e outros cantos do mundo, como África e Ásia Central.
Por conta desses investimentos, muitos ousam dizer inclusive que a taxa de alfabetização em Hunza é de 100%. Visitamos algumas escolas na região para descobrir se a estatística era real, mas não encontramos nenhum dado oficial. Por outro lado, nos chamou atenção ver meninos e meninas dividindo a sala de aula em um país que separa estudantes por gênero na edução básica pública. “A coeducação é importantíssima, pois ensina desde cedo os homens a respeitarem as mulheres como iguais”, nos explicou a diretora de uma das escolas.
Guia turístico do Vale de Hunza
Com tantos atributos, não é de se espantar que esta seja uma região bastante popular entre os próprios paquistaneses, que costumam visitar Hunza durante um final de semana prolongado. Os poucos turistas internacionais que se aventuram por lá também reservam pouco tempo para a visita, e apesar de dois ou três dias serem suficientes para conhecer os principais pontos turísticos do Vale de Hunza, com tão pouco tempo você acaba perdendo uma parte essencial desta viagem: a interação com os locais.
Nossa principal dica então é para reservar pelo menos cinco dias em Hunza, assim você pode visitar os principais pontos turísticos, assim como os menos conhecidos, além de ter tempo para vagar pelos vilarejos, sentar para conversar com locais simpáticos prontos para te oferecerem uma xícara de chá, assistir a uma eventual partida de vôlei na praça de uma vila e entrar no ritmo de uma das regiões mais gostosas do Paquistão.
O que fazer no Vale de Hunza no Paquistão
– Visitar o Attabad Lake
Este lago de cor azul turquesa e beleza excepcional é uma das principais atrações de Hunza. O mais impressionante é que o Attabad Lake não existia há 10 anos, já que ele é o resultado de um deslizamento de terra que aconteceu em 2010 e inundou toda a região.
Com o desastre natural, centenas de pessoas tiveram que ser desabrigadas e outras milhares ficaram completamente desconectadas do resto do país, pois a inundação afetou a única via de acesso a Hunza.
Por anos, repito – ANOS, a população local teve que se locomover com barcos e sobreviveu com mantimentos enviados pelo exército chinês e paquistanês. O resultado da tragédia é um dos lagos mais bonitos de todo o Paquistão.
– Subir até o Eagle’s Nest
Um mirante que proporciona vistas espetaculares para o Vale de Hunza. Porém, não é para ser confundido com o hotel de mesmo nome. O mirante fica no topo da Montanha Duiker. Dá para dirigir até o local, estacionar o carro perto do hotel de mesmo nome e subir a montanha por uns 10min – nível básico, super rápido e fácil.
Vale a pena visitar o Eagle’s Nest em qualquer horário, pois o reflexo dos raios solares nas montanhas muda completamente o cenário durante as diferentes horas do dia. Para aqueles que estão com o tempo contado, dê preferência para subir ao mirante no pôr-do-sol.
– Visitar Khunjerav Pass, a fronteira mais alta do mundo
A 4.600 metros de altura, a fronteira entre China e Paquistão, conhecida como Khunjerav Pass, é uma das mais altas do mundo. A estrada que leva até o local é linda, mas por conta da altitude, é melhor se preparar para o frio: nós visitamos o Khunjerav Pass em agosto, verão no Paquistão, e fomos recebidos com muita neve!
– Atravessar a ponte mais perigosa do mundo
Hunza também é sede de uma das pontes mais perigosas do mundo, a Hussaini Bridge.
Esta ponte suspensa dependurada a muitos metros acima de um rio de correnteza forte, assusta pelo visual precário. Quando visitamos a Hussaini Bridge, turistas estavam proibidos de atravessá-la, mas vimos vários locais indo de um lado ao outro do rio, quase que sem se importarem com o fato da ponte parecer estar prestes a cair.
– Conhecer os dois fortes de Hunza: Altit e Baltit Fort
Altit e Baltit Fortes, construídos no séc. XI e VIII b.C., respectivamente, são dois fortes em Hunza que serviam de residência para a família real.
Talvez o que melhor explique as diferenças culturais do Vale de Hunza em comparação ao resto do Paquistão é o fato da região ter sido um principado independente até 1974. Para aqueles interessados em saber mais sobre a história do Vale, uma visita aos dois fortes é obrigatória!
A iniciativa é o resultado de uma parceira entre a Fundação Agha Khan (aquele que mencionamos no começo do texto) e a Embaixada da Noruega no Paquistão. Ao visitar o Altit Fort, você pode pedir para um dos guias locais – todas mulheres – te explicar mais sobre o projeto.
– Ir no Borith Lake
A maioria das pessoas não visita Lago Borith, talvez por não saberem de sua existência ou então por preguiça da trilha de 30 minutos necessária para chegar até ali. É verdade que o local talvez não seja tão impressionante quanto Attabad, mas ainda assim, recomendamos muito visitar o Lago de Borith, pois ele é lindo e tem uma atmosfera super tranquila.
Ao visitar Borith Lake, não deixe de passear pelo vilarejo local e conhecer seus moradores simpáticos. Se estiver empolgado, aproveite para fazer uma das trilhas que leva até perto da geleira.
– Explorar alguns dos vilarejos do Vale de Hunza
Como explicamos no começo do texto, o mais gostoso em Hunza foram seus moradores e o clima tranquilo da região. A melhor forma de experienciar este lado de Hunza é se perder pelos vilarejos, se deixando aproximar por pessoas locais simpáticas prontas para puxar papo.
Como nos hospedamos em Gulmit, passávamos as nossas tardes passeando por ali, mas você pode escolher qualquer vilarejo próximo de você que com certeza a experiência será agradável.
– Comer, comer, comer
Existe uma lenda de que a população de Hunza vive até os 100 anos por conta da qualidade de vida e pela alimentação baseada em produtos orgânicos. Nós entrevistamos algumas pessoas da região para descobrir se o mito é real.
O que nos falaram é que este cenário costumava ser verdadeiro, mas que hoje em dia, com a chegada de tantos produtos industrializados, a expectativa de vida das pessoas de Hunza caiu bastante e são poucos os que chegam até os 100 anos.
Ainda assim, em Hunza come-se bem melhor do que em outras áreas do Paquistão, então não deixe de provar absolutamente tudo o que puder, desde as frutas orgânicas, ao mel, a carne de iaque, vegetais e até mesmo o famoso Salajeet, produto local feito a partir da extração dos minerais de uma pedra que promete ser afrodisíaco.
Onde se hospedar em Hunza – hotel no Vale de Hunza
Existem diversas opções de acomodação em Hunza. Nós nos hospedamos em uma Guest House chamada Gulmit Tourist Inn, que fica no vilarejo de… Gulmit (há!)! Os quartos do Gulmit Tourist Inn são simples, mas bem aconchegantes e a família dona do estabelecimento é extremamente acolhedora. Veja aqui a disponibilidade do hotel e preços.
Nós estávamos gravando um documentário no Paquistão sobre as mulheres do país e, em Hunza, tínhamos a missão de encontrar uma centenária que nos explicasse como era possível que a expectativa de vida ali fosse mais elevada do que no resto do Paquistão. Enfim, os donos do Gulmit Tourist Inn não apenas encontraram uma das únicas centenárias da região, como ainda traduziram a entrevista.
Booking.comComo chegar no Vale de Hunza
Como falamos anteriormente, Hunza fica no norte do Paquistão, na região autônoma de Gilgit-Baltistan. Por ser uma zona extremamente montanhosa, faz a viagem ser bem longa – dependendo de onde você estiver, pode demorar até um dia inteiro para chegar ali.
A melhor maneira de ir a Hunza é pegando um ônibus ou trem até a capital Islamabad e de lá um ônibus que vá até a cidade de Gilgit, capital de Gilgit-Baltistan. A partir daí você pode pegar um táxi ou van até o seu hotel.
A estrada até Hunza é extremamente acentuada, então se você tem problema com enjôo, já prepara o Dramin. Sem brincadeiras, a trilha sonora do nosso ônibus, tanto na ida quanto na volta, eram os vômitos dos outros passageiros – desagradável falar isso aqui, né? Mas de que serviria este blog se não para te preparar para a realidade. rs.
Nossa viagem em Hunza foi organizada pela Magellan Travels, uma agência de viagens de Karachi especializada no norte do Paquistão. Durante todo o trajeto fomos acompanhados por um guia da Magellan, o querido Zaheer, que não apenas garantiu que tivéssemos uma viagem sem estresse algum, como ainda se tornou um grande amigo.
A infraestrutura do Paquistão não é das melhores – não se esqueça que o país tem menos de 70 anos – e encontrar pessoas que falem inglês fora das grandes cidades pode ser um verdadeiro desafio. Além do mais, é comum os horários de trem e ônibus mudarem sem aviso prévio ou então ser parado por check points da polícia na estrada. Ter o Zaheer conosco durante esta viagem foi essencial para que não tivéssemos problema algum, principalmente com o exército que as vezes exigia alguma autorização impressa ou sei lá mais o que.