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Apesar de trabalharmos com turismo, sempre vimos o fenômeno do turismo de massas como algo extremamente negativo. Infelizmente, concordamos com a frase que escutamos uma vez de um jornalista e viajante italiano, de que “onde chega o turismo, morre uma sociedade” e é por isso que o foco do nosso trabalho é o turismo sustentável, mas não apenas no que tange ao meio ambiente, mas principalmente ao social e econômico. Por isso, esse artigo tem a proposto de discutir o impacto do turismo.
O nosso problema com o turismo não é sem fundamento. Nos últimos anos, o setor cresceu muito e com o advento de novas plataformas e empresas que barateiam e facilitam o deslocamento, como Ryanair ou AirBnb, esse número continuará aumentando.
Em 2017, por exemplo, foram 1,322 milhões de chegadas internacionais registradas em todo o mundo, um aumento de 7% em relação ao ano anterior.
Impacto do turismo no mundo
O problema é que o grande fluxo de pessoas sem um planejamento de impacto pode ser extremamente prejudicial para a cultura e economia local. A especulação imobiliária, o esvaziamento dos centros históricos, a perda das tradições populares e o esgotamento das reservas naturais são apenas algumas das consequências. Não é a toa que cidades como Porto, Barcelona, Veneza, entre outras, vêm adotando medidas para diminuir o número de visitantes e frear a perda de sua identidade.
O impacto do turismo na Itália
A Itália está entre os cinco países com mais turistas no mundo e uma das regiões a receber grande parte desses visitantes é a Puglia, o salto da bota. Para você ter uma noção, cidades como Vieste, no Gargano, com 20 mil habitantes, chega a receber até 300 mil pessoas no mês de agosto.
Por conta de estatísticas como essas, viemos para a Puglia preparados para receber uma enxurrada de críticas dos locais em relação ao turismo. Conversamos sobre o assunto com diversas pessoas, das mais jovens aos mais velhos e, para a nossa surpresa, todos pareceram concordar que no caso de algumas cidades da Puglia, o turismo foi essencial para a revitalização dos centros históricos e melhora da economia.
A esvaziação dos centro-históricos italianos
O que nos explicaram é que depois da Segunda Guerra Mundial e com a injeção de fundos do Plano Marshal para reconstruir o país, houve uma grande mudança na mentalidade das pessoas dessa região. Tudo o que era considerado velho, ou seja do passado, era mal visto e a população queria apenas o “novo” e “moderno”.
Isso se estendeu inclusive para outros elementos da cultura e como consequência, os dialetos, as tradições, a dança e música populares, além do próprio centro histórico das cidades, foram abandonados.
Os centros deixaram de ser frequentados pelas famílias e eram tidos como espaços marginalizados de criminalidade. Muitas casas chegaram a ser abandonadas e eram inclusive doadas pelo governo para qualquer pessoa que se dispusesse a reformá-las.
O turismo na Puglia nos últimos 20 anos
Com o crescimento do turismo na Puglia nos últimos 20 anos no entanto, investidores internacionais e nacionais começaram a comprar alguns desses imóveis e a trabalhar para a revitalização da infraestrutura, da arquitetura e dos centros urbanos. Esse momento coincidiu com um movimento crescente de jovens locais que buscavam resgatar as tradições e culturas populares perdidas na geração de seus pais, durante o pós-guerra.
A valorização das regiões pelos olhos dos turistas ajudou com que os próprios locais se reencantassem e enxergassem o potencial daquilo, e o que antes eram zonas intransitáveis, viraram lugares vivos e charmosos.
O turismo de massas é um fenômeno positivo?
Esse texto não é para dar razão a um ou outro movimento, mas sim para mostrar que para um mesmo fenômeno existem diversas variáveis, perspectivas e consequências.
Muitas vezes, o que funciona em um lugar não dá certo exatamente em outro, e o que é destrutivo para um, pode ser a causa do renascimento de outro.
Independente da posição, a melhor forma para descobrir o impacto da sua visita e qual a melhor forma de deixar um legado positivo, é conversar com quem mais sofre as consequências disso: a população local.