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Este é um post patrocinado. Patrocinado pela empatia, camaradagem e humanidade que encontramos em Koper, Eslovênia.
Em um mundo que parece cada vez mais caminhar para o egoísmo, capitalismo selvagem, falta de compaixão pelo próximo e etc, uma gerente de hotel que oferece um quarto em seu estabelecimento, gratuitamente, simplesmente porque está chovendo muito e você não tem para onde ir, parece mentira, não é mesmo? Pensando agora, enquanto escrevo esse texto, me parece surreal e impossível também, mas não quando aconteceu.
Não tínhamos parceria em Koper
Nós estávamos no meio da nossa viagem de bicicleta da Itália à Eslovênia. Parte do custo dessa expedição foi financiado através de parcerias, como as nossas bikes (doadas pela Cigno Verde), alguns trechos que fizemos de carro na Eslovênia (oferecido pela IfeelSlovenia) e até mesmo alguns hotéis. Essas parcerias foram especificadas em nossos textos e sempre fomos muito sinceros em relação a isso. De qualquer forma, não teríamos por que mentir, já que só entramos em contato com empresas que nos interessavam e que são compatíveis com os valores do Monday Feelings. Tínhamos pré-arranjado nossa hospedagem em Mantova, Liubliana, Brda e Bled, mas não em Koper.
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Como chegamos em Koper, Eslovênia
Koper (Capodistria, em italiano) foi nossa primeira parada na Eslovênia. Tínhamos acabado de cruzar a fronteira com a Itália, vindo da cidade de Trieste. Já estávamos pedalando há duas semanas e até ali a maior parte do caminho fora ensolarado. A única exceção foi em Mantova, que choveu sem parar durante dois dias, mas como estávamos hospedados em um hotel bem gostoso e no centro, não fez diferença.
As coisas começaram a mudar enquanto nos aproximávamos de Koper. A chuva só apertava e, ao contrário de Mantova, não tínhamos onde dormir. Inicialmente, a ideia era acampar, como fizemos outras vezes durante a viagem, mas com aquela tempestade, não havia como.
A cidade de Koper, Eslovênia
Nos permita interromper rapidamente para explicar um pouco sobre Koper, só para contextualizar melhor a história. Koper é essa cidadezinha eslovena na costa do Mar Adriático, bem na borda com a Itália. As duas culturas se mesclam bastante nessa região e praticamente todo mundo em Koper fala italiano, come queijo e bebe vinho. Rs.
Koper foi por muito tempo dominada pelos romanos e pelos venezianos e sua história, de certa forma, está mais relacionada à italiana do que com a eslovena. Enfim, você só percebe que saiu da Itália por um ou outro detalhe cultural e porque o GPS aponta a mudança de país. Koper, Eslovênia, é bem charmosa e preserva ainda hoje um centro histórico medieval e parte da antiga muralha que costumava protegê-la.
Hospedagem em Koper
Por conta do tamanho de Koper, existem pouquíssimos hotéis/hostels e como não devem ter tantos turistas se aventurando por lá, muitas das acomodações não têm recepção. Os lugares que encontramos, por exemplo, deixavam apenas um número de WhatsApp na porta, pedindo para quem precisasse de informações, entrar em contato. Enviamos mensagens para uns seis estabelecimentos e todos tinham algo em comum: estavam bem acima do nosso orçamento.
Tentamos convencê-los a baixar o preço, pois eram 5pm e teríamos que sair no dia seguinte bem cedo para cumprir um compromisso na Caverna de Sckocjan, a 30 km dali. Sem muita sorte, estávamos quase desistindo e pagando os 50 euros cobrados. Já estávamos calculando como poderíamos economizar mais pra frente e compensar essa “deslizada” no orçamento.
A chuva continuava a apertar, a noite começava a dar as caras e antes de nos darmos por vencido, resolvemos tentar mais um estabelecimento, o último da lista que o quiosque de informações turísticas tinha nos passado: o Hostel Museum.
O Hostel Museum em Koper, Eslovênia
Diferentemente dos outros estabelecimentos, o Hostel Museum tem uma recepção funcionado dentro do Bar&Restaurante do hostel. Entramos no bar lotado ensopados e pedimos para conversar com a gerente ou pessoa responsável. Uma mulher alta, moderna, de cabelo curto loiro e iPad na mão veio ao nosso encontro e começamos a explicar nossa situação (que sinceramente, naquele momento estava um pouco patética). Aliás, nessa hora a chuva apertou MUITO. Parecia que alguém lá em cima estava tentando mostrar o quanto de água era possível despejar em um mesmo metro quadrado.
Doris, a gerente já tinha estado no Brasil. Pra nossa surpresa tínhamos muito em comum e em poucos instantes estávamos batendo papo e dividindo histórias entusiasmados. Ela resolveu baixar o preço pela metade, cobrando 40 euros pelo quarto, o que ainda assim estava acima do nosso limite. Enquanto tentávamos decidir, olhamos todos para a chuva que caía forte lá fora, até que ela nos encarou e falou: “parem de pensar. Peguem suas coisas e vão para o quarto que depois a gente discute o preço. O mais importante agora é que vocês estejam secos e longe da chuva”.
Àquela altura do campeonato, era a nossa melhor proposta e não tinha mais o que discutir. Pegamos nossas coisas e lá fomos para o nosso quarto, que ficava em um apartamento atrás do restaurante. O Museum não tem dormitórios como outros albergues, mas sim suítes ou então quartos dentro de uma casa, onde os hóspedes dividem as áreas comuns.
Quando entramos naquele apartamento delicioso com cara e cheiro de “casinha de mamãe” (a gente só aprecia quando passa muito tempo sem), quase não acreditamos. Acho que não tínhamos ideia do quanto estávamos precisando de uma noite confortável. Tínhamos um chuveiro gostoso (a famosa “Gorducha” pra quem lembra do comercial ????), roupa de cama e toalhas macias, uma cozinha inteira para nós e sala de TV com um sofazão. Nem lembrávamos a última vez durante aquela viagem em que desfrutamos de tamanha mordomia. Aproveitamos a casa para cozinhar um jantar, tomar vinho e dormir como bebês, ou melhor, como dois ciclistas que até aquele momento tinham pedalado mais de 600km.
A hora de ir embora
Na manhã seguinte, nós acordamos, arrumamos todas as nossas coisas e fomos até a recepção no restaurante falar com a Doris, fazer o check-out e pagar. Ela não estava e pedimos para o filho, que estava como responsável, ligar para ela. Pelo telefone, a Doris gentilmente nos falou para esquecermos o pagamento, que era um prazer nos ajudar e que esperava que aproveitássemos nossa viagem pela Eslovênia. Assim. Não tínhamos feito nenhum acordo, na verdade, ficou subentendido que pagaríamos os 40 euros, mas ela não nos cobrou nada e nem pediu nada em troca. Ela simplesmente resolveu ajudar dois estranhos.
Não estamos aqui para dizer o quão incrível era o Hostel Museum – que aliás, era; ou o quanto você deveria visitar Koper – e sim, você deveria; mas para discutir uma coisa importante: sabemos que cada vez mais somos tomados pela sensação de que o mundo está virando de ponta-cabeça e que estamos caminhando para uma distopia, mas acredite, ainda existem mais pessoas boas do que ruins. Nós, os que nos importamos uns com os outros, que ainda estamos dispostos a praticar gestos de empatia, ainda somos a maioria.
Sei que com tantas notícias ruins nos bombardeando diariamente, fica difícil de acreditar… acontece com a gente também, mas parece que sempre que começamos a duvidar, cruzamos com pessoas como a Doris. São esses encontros que renovam nossa esperança na humanidade e nos motivam a continuar viajando pelo mundo, conhecendo novas pessoas, lugares, culturas e relatando tudo aqui no Monday Feelings. Porque os pequenos gestos de gentileza do dia-a-dia também merecem ser contados.
Obrigado, Doris.