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Nesse texto falamos sobre livros para quem gosta de viajar, mas devemos ressaltar que não nos referimos apenas a viagem turística, mas também a uma jornada mais cultural e imersiva pelo mundo.
No dia 1º de janeiro, eu estava matando a ressaca na cama enquanto lia algumas matérias no celular e encontrei uma que conseguiu prender minha mente um tanto quanto dispersa. Era sobre a escritora inglesa Ann Morgan que, em 2012, criou o projeto “A Year of Reading The World” (inglês para Um ano lendo o mundo), em que se propunha a ler um livro de cada país do mundo, durante um ano.
Tudo começou quando ela percebeu que a maioria dos livros de sua extensa biblioteca particular eram de autores de língua inglesa. Em sua palestra no TED, ela chegou a dizer que “era uma xenófoba literária desinformada”, e foi assim que resolveu diversificar a leitura. Para isso, ela criou um blog, pediu dicas de autores e títulos para pessoas de todos os cantos do mundo e transformou as sugestões e avaliações nessa lista maravilhosa aqui.
Coincidentemente, encontrei essa matéria no momento em que mais tenho lido. Nessa segunda fase de nossas vidas aqui em Parma – dividimos nossa temporada italiana entre “antes” e “depois” da viagem de bicicleta à Eslovênia -, nos mudamos para uma casa sem rede de wifi. O que inicialmente pareceu tortuoso, se converteu em uma grande oportunidade de combater maus hábitos.
Nesses três meses vivendo sem internet, eu e o Tiago conversamos muito mais, aproveitamos mais o sabor das nossas refeições e a companhia um do outro, temos discutido com mais afinco nossas ideias, filosofias e pensamentos, dormimos mais cedo e, principalmente, lemos muito mais. Nos últimos noventa dias morando em uma casa sem internet, nós lemos infinitamente mais do que durante os seis meses em que moramos em um apartamento com wifi.
Os livros que emprestamos com certa despretensão, já que o acervo em inglês da biblioteca pública de Parma não é dos maiores, têm nos ajudado a seguir viajando e explorando novas culturas e pensamentos, mesmo sem sairmos de casa.
As últimas obras que lemos, todas de autores de diferentes cantos do mundo, têm testado nossas “certezas” e pré-conceitos, e nos apresentado a uma nova realidade. Muitas histórias inclusive nos mostraram novas perspectivas sobre países, culturas e fatos históricos que, até então, pensávamos dominar bem.
Pode parecer clichê, mas é verdade que nem sempre é preciso sair de casa para viajar. Pensa comigo, qual experiência é mais válida? Se deslocar para o outro lado do mundo, mas não se permitir aceitar nada que seja diferente – comer o que come em casa, se fechar em um resort, não conversar com ninguém que não entenda a sua língua ou que pense diferente de você, não abrir os olhos para enxergar o novo, julgar tudo através das suas experiências -; ou se propor a tentar compreender uma nova realidade, a partir da visão de um autor ou de um personagem que têm referências e cultura completamente diferentes das suas?
De verdade, acho a segunda opção mais enriquecedora.
Quem me dera ter lido Shantaram antes de visitar a Índia, por exemplo… acho que eu teria aproveitado mais a viagem (para qualquer um viajando à Índia aliás, fica aí a nossa dica de leitura).
Mas enfim, a matéria sobre o projeto da escritora inglesa me fez perceber que, apesar de termos parado na Itália por um certo tempo (depois de dois anos dando uma volta ao mundo, finalmente fincamos raízes temporárias por aqui), continuamos dando um giro pelo mundo através das nossas leituras. Os livros têm nos ajudado a saciar um pouco a necessidade de ter contato com o novo diariamente.
Fica aqui então, além da lista da escritora, uma sugestão das obras que lemos nas últimas semanas:
Nômade – uma imersão na cultura dos nômades da Asia Central
Esse é o nosso primeiro e mais lindo filho! Nômade conta a história de nossos dois meses de viagem entre o Quirguistão e o Uzbequistão, retratando a cultura dos nômades da Ásia Central, incluindo a seca do Mar de Aral, as antigas cidades da Rota da Seda e as paisagens mais deslumbrantes da região. É ideal para quem gosta de viajar, cultura, arte, história e cultura nômade.
É também um ótimo presente para as pessoas que você gosta. Leia mais sobre o nosso livro aqui.
Livros para quem gosta de viajar
Essa é uma lista bastante pessoal, mas se você tem outras sugestões de livros para quem gosta de viajar, deixe aqui nos comentários para nós e outros leitores!
Não deixe de ver também as dicas de leitura do blog Viciada em Viajar, com 15 livros para você ler nesta quarentena.
- O Sonho da Sultana: da escritora muçulmana Rokeya Sakhawat Hossain, indiana do estado de Bengala. O livro traz um conto utópico feminista sobre uma cidade chamada Ladyland. É considerado o primeiro conto de ficção científica feminista do mundo e está disponível para baixar gratuitamente nesse site aqui!.
- Pradmarag: também escrito pela feminista Rokeya Sakhawat, em 1924, traz a história de mulheres indianas em busca de sua emancipação.
- O Fundamentalista Relutante: romance escrito pelo paquistanês Mohsin Hamid. Conta a história de um jovem, também de origem paquistanesa, mas educado nos EUA, que passa por um processo de desencantamento com a cultura americana.
- A Revolução dos Bichos: livro clássico escrito pelo inglês George Orwell.
- Homenagem à Catalunha: também de George Orwell, relata sua experiência lutando na Guerra Civil Espanhola pelo POUM (Partido Operário da Unificação Marxista), um partido comunista anti-estalinista.
- Filhos do Jacarandá: escrito pela iraniana Sahar Delijani. O livro conta a história de jovens mulheres e homens que lutaram durante a Revolução Iraniana de 1979 e acabaram perseguidos pelo regime do Ayatollah, quando a revolução tomou um rumo fundamentalista.
- Cem Anos de Solidão: outra obra clássica, dessa vez do colombiano Gabriel García Márques.
- O Amor nos Tempos do Cólera: também de García Márques.
- O Mestre de Petersburgo: do sul-africano ganhador do nobel de literatura John Maxwell Coetzee. O livro tem como personagem principal Fyodor Dostoyevsky, que acaba de retornar à Rússia após o suposto suicídio de seu entenado.
- À Espera dos Bárbaros: também de J. M. Coetzee, trata sobre torturas, guerras e o conflito “opressor X oprimido”, “colonizador X colonizado”.
- Noites Brancas: escrito pelo russo Fiódor Dostoiévski, em 1848, antes da sua prisão.
Sugestão do leitor Giancarlo Ceccon:
- Cidades Invisíveis: “Se meu livro As cidades invisíveis continua sendo para mim aquele em que penso haver dito mais coisas, será talvez porque tenha conseguido concentrar em um único símbolo todas as minhas reflexões, experiências e conjeturas.” Assim se refere o próprio Italo Calvino – ganhador do prêmio Jabuti 1993.
Obrigado e boas viagens – ou melhor, boas leituras 😉