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Nem todo mundo sabe que andar de elefante na Tailândia é uma atividade extremamente cruel. Nós mesmos, quando visitamos a Tailândia, pensávamos que os trekkings com elefantes fossem um passeio turístico como outra qualquer. No entanto, o que descobrimos foi uma triste realidade e temos a obrigação de ajudar a difundir a informação. Entenda aqui então por que você não deve, de forma alguma, andar de elefante na Tailândia .
Elefantes na Tailândia: uma antiga e importante tradição
Há séculos elefantes na Tailândia são utilizados para exercer diferentes atividades, desde trabalhos na área militar, servindo como arma de guerra por exemplo, à transporte, ou até mesmo pela indústria madeireira para carregar troncos derrubados.
Elefantes fazem parte da cultura tailandesa e estão presentes na história, religião e tradição do país. Por isso, sempre foi comum para as pessoas conhecidas como mahouts, que são os treinadores e donos de elefantes, mantê-los como animais de estimação.
E qual o problema em ter um elefante de estimação?
O problema é que os elefantes, por natureza, não são domesticáveis. Para que eles sejam capazes de obedecer humanos e praticar tais atividades, esses animais precisam passar por um ritual conhecido como Phajaan, que na Tailândia significa “Quebra do Espírito”.
O Phajaan consiste principalmente em separar a cria da mãe já nos primeiros meses de vida e, posteriormente, sujeitá-lo a treinamento excessivo, que na maioria das vezes envolve espancamento, privação de sono, fome, entre outras coisas.
De onde vem a relação entre os elefantes na Tailândia e a indústria do turismo
Em 1988, uma grande enchente no sul da Tailândia trouxe novas preocupações ambientais ao país e o desmatamento foi proibido.
Com a nova lei, diversos mahouts que trabalhavam para a indústria madeireira nos processos de desmatamento, perderam seu emprego e consequentemente, a utilidade do elefante. A solução encontrada foi usar os animais para o entretenimento de turistas, e é aqui que mora o problema.
Centenas de elefantes em toda a Tailândia são utilizados por turistas para trekkings e outras acrobacias. Mas o que muita gente não sabe é que para o elefante chegar a esse estado de aceitação e permitir, entre outras coisas, que pessoas subam em suas costas ele teve que passar por esse processo de “quebra da alma”, que muitas vezes se assemelha a tortura.
Além do mais, os grandalhões são expostos a longas horas de trabalho e obrigados a carregar cargas muito acima do seu limite físico. Para se ter uma noção, a expectativa de vida dos elefantes domesticados é muito abaixo da de seus similares em liberdade.
De acordo com a organização governamental tailandesa Thai Elephant Conservation Centre, hoje em dia há cerca de 5000 elefantes na Tailândia, mais de 2000 deles são domesticados.
Como nós descobrimos a realidade sobre os andar de elefante na Tailândia?
Nós chegamos na Tailândia sem saber nada sobre o assunto, tendo apenas visto no passado fotos de outros viajantes nas costas de elefantes, narrando essa como uma das experiências mais incríveis de suas vidas. Não tínhamos opinião formada e acho que, caso surgisse a oportunidade, poderíamos até embarcar no passeio.
Até que um dia, enquanto dirigíamos nossa moto pela Ilha de Ko Lanta, onde moramos por um mês, vimos diversos elefantes acorrentados, com mobilidade mínima. Aquilo chamou nossa atenção, principalmente porque os animais tinham um olhar muito triste.
Nos sentimos mal e resolvemos pesquisar sobre o tema. Quanto mais estudávamos, mais percebíamos que a coisa era pior do que imaginávamos. Ficamos inclusive sabendo de casos de abuso durante o próprio trekking, com o mahout espancando o animal em pleno passeio porque ele se recusava a andar na velocidade esperada.
O que podemos fazer para mudar essa realidade?
E qual será a solução para essa triste realidade dos elefantes na Tailândia? Deixar de utilizar os animais para o turismo, devolvê-los à natureza e prender os mahouts? Sim e não. Que os elefantes não devem ser utilizados para o entretenimento de turistas é óbvio. Mas aparentemente não há espaço para que todos sejam devolvidos à natureza. E mais, para o mahout, ele está apenas praticando um trabalho legalizado e centenário e não há nada de criminoso nisso.
Amigos tailandeses também nos contaram que há diversos casos de mahouts que tratam os elefantes como membros de sua própria família e criam um vínculo muito forte com o bicho (apesar desses casos representarem uma minoria).
Temos que ser realistas e razoáveis. Os mahouts deveriam ser reeducados para não maltratarem os animais, treinados em outras atividades e reinseridos no mercado de trabalho. Mas, acima de tudo, é preciso acabar com a demanda por esse serviço, que vem dos turistas.
Quem ainda assim quiser ter um contato próximo com elefantes durante as férias na Tailândia, saiba que é possível através de algumas ONGs que resgatam e ajudam elefantes em todo o país.
Infelizmente não podemos sugerir nenhuma, pois só o faríamos se tivéssemos maior conhecimento sobre o assunto e a certeza de que são organizações genuínas. Por enquanto, o que sabemos é que qualquer pessoa sensata passaria longe dos passeios com elefantes na Tailândia.
Atualização: uma alternativa para interagir com elefantes na Tailândia
O leitor Hugo Prizon entrou em contato com a gente contando sobre um retiro perto da cidade de Chiang Mai que permite conhecer de perto um elefante. O lugar se chama Elephant Retirement Park e, há um ano, quando Hugo esteve por lá, possuía cinco elefantes, entre eles um bebê. São todos animais resgatados e não possuem correntes ou ganchos prendendo-os. Também não é permitido subir em suas costas ou “levá-los” para passear e os animais não praticam nenhum tipo de acrobacia.
As únicas atividades são dar banho de lama e de rio, o que toma praticamente o dia inteiro. Ele contou que essa foi a sua melhor experiência no país e que os trabalhadores do local eram extremamente cuidadosos respeitosos com os elefantes.
Outras atividades com animais na Tailândia que você deveria passar longe
É muito comum ver na Tailândia macacos enjaulados e sendo criados como animal de estimação. Mais uma vez, muitos são usados para o entretenimento de turistas e o viajante tem obrigação de não fomentar a prática.
Também é notória a crueldade contra os tigres, que muitas vezes são drogados para que turistas possam tirar fotos ao seu lado.
*Texto escrito em fevereiro de 2016 e atualizado em abril de 2018 *